Tranças, rabis e o luminoso sopro de Isaías |
Adventus, dizia-se antigamente – chegada, o progresso de um passo que cremos ouvir antes de ele aparecer. Toda a chegada é dúplice: algo está para vir, e algo se move dentro de nós em direção ao que que vem. Entre ambos, um frémito; uma alegria que não ousa dizer o nome; uma esperança que, como uma brasa, bruxuleia sob cinzas.
A esperança grega (ἐλπίς – elpis) é uma palavra que não sorri – hesita, permanece na sombra, atenta, como se o futuro não fosse ainda suficientemente sólido para nele apoiarmos o pé. Hesíodo conta que ἐλπίς permaneceu no fundo da caixa, muda, enquanto todas as outras forças – as doenças, o cansaço, os golpes do destino – se espalhavam pelo mundo. Mas porquê? Porquê deixá-la na sombra, secreta, quase envergonhada?
Os antigos sabiam que a esperança não é uma luz que se impõe, mas lareira que exige proteção. Avivar-lhe o brilho é perdê-la. Conservar-lhe o véu é deixá-la agir. Assim, Pandora não fecha a caixa para esconder, mas para preservar o que poderia dissipar-se em demasiada luz. Neste gesto discreto, quase involuntário, reside a salvação: a esperança é frágil, mas pode durar, precisamente porque se recolhe.
No hebraico bíblico, outra palavra ilumina este recolhimento – קָוָה (qavah). Esperar, dizem os gramáticos, significa tecer; pegar nos fios dispersos dos dias, do passado, do presente, do futuro, e uni-los para entrançar uma corda. Esta corda, contudo, não é prisão, mas ascensão. É a escada de Jacob antes de ser visão: um elo que une a terra e o céu, o humano e o angélico, o visível e o invisível. Esperar é fabricar continuidade naquilo que parece apartado, reunir o que está disperso.
Os rabis acrescentam que qavah contém a ideia de tensão. Como um arco tensionado, um instrumento cujo poder provém do retraimento. Aquele que espera não permanece imóvel: estende-se em direção àquilo que deseja.
Na promessa de Isaías (וְקֹוֵי יְהוָה יַחֲלִיפוּ כֹּחַ – v’kovei Adonai yachalifu koach) aqueles que esperam no Nome renovam as suas forças) a força não vem do que está para além da espera: vem da própria espera. A esperança abre o espaço onde a graça pode descer.
O Advento começa nesta tensão. Não é um tempo, mas um tremor. O roxo de certas liturgias não é luto, mas a aurora antes do dia. O olho tem dificuldade em distinguir cão e lobo; é nessa........