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Espinosa, Haydn e os vidros embaciados

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12.10.2024

Para o José Dias

Conheço apenas quatro autores para os quais a alegria é a mais elevada das virtudes humanas: Epicuro, Chrétien de Troyes, Espinosa, Stendhal. No final da sua aventura, os heróis de Chrétien de Troyes recebem a Alegria como recompensa, ainda que não seja claro que coisa possa ela ser: uma trompa mágica que obriga à dança, ou uma trompa que inebria, um jogo, um prazer? Jocus é o antigo nome do júbilo; aquele ficar sem palavras de alegria no limite da linguagem, no desfecho da ventura, abrindo-se ao silêncio ou à música da trompa que obriga a alma ao silêncio.

Espinosa era pequeno, frágil, de origem portuguesa e tinha sido judeu. Colerus diz que ele passava a vida enfiado numa bata manchada, algo que um vereador da cidade de Amesterdão lhe esfregara na cara. Calçava uns sapatos cinzentos com fivelas prateadas. As suas meias eram de sarja. Usava uma túnica negra turca, uma gola e um manguito preto.

Na sua biblioteca, possuía cento e sessenta livros. Talhava e esmerilava vidros para lentes astronómicas e tubos de microscópio. O seu gasto diário orçava em quatro quartos e meio. O seu sustento consistia numa sopa de leite temperada com manteiga e uma caneca de cerveja que comprava pelo valor de dez meias pintas de vinho por mês. Trabalhava a uma mesa desde o amanhecer. Sobre cada peça que separava do disco de vidro, manuseando o seu diamante, acudia, brincando, o fragmento de um raio de luz. Van Rooijen acrescenta que, quando o sol se punha, recolhia a poalha que se separara da peça que tinha talhado; recolhia-a na palma da mão e ia deitá-la ao lixo. Acendia........

© Observador


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