A minha asma e Carlos Paião |
A infância tem destas coisas, mistura fragilidade com encantamento e deixa-nos memórias que não se apagam. Eu cresci entre crises de asma quase diárias, daquelas que nos tiram o ar e nos devolvem um mundo feito de ansiedade. O ritual dos aerossóis era constante. Havia sempre um frasco a chiar, uma máscara que eu ajustava ao rosto e aquele vapor frio que parecia afastar a falta de ar apenas o suficiente para atravessar mais um dia.
Os anos 80 não ajudavam. Era a década das carpetes, símbolo de modernidade doméstica, espalhadas por corredores, quartos e salas. Para quem tinha asma era um tormento. A poeira aninhada nas fibras levantava-se ao mínimo passo e bastava um movimento para provocar em mim uma corrida contra o tempo. Houve dias em que quase sabia de cor a........