Acabámos de viver o Tempo das Listas – das listas de deputados. O Tempo das Listas é um Templo, um tempo de separação entre o passado e o futuro. Um templo com duas divindades: o poder e as listas. O poder tem a sua manifestação (cratofania) grandemente de forma unipessoal (o líder), já as listas são uma cratofania coletiva, manifestando-se no conjunto de fregueses de um partido. Neste sentido, o Temp(l)o das Listas evidencia um paradoxo entre um Estado e o interesse público e a forma básica de organização social do mesmo, muito mais característica de uma sociedade tribal e de fórmulas religiosas ancestrais. É nesse paradoxo que encontramos a raiz do que chamo ‘Democracia de Enclave’, que está na base do nosso sistema polític,o mas também das nossas instituições. É, desde logo, este carácter tribal e religioso e a manipulação da ilusão da representação, que afasta muitos da política: é que nem todos são movidos pela sedução do poder e do seu abuso!
Quem está fora deste ‘maesltrom’ nem imagina, mas acredito que seja o tempo em que mais esforço de organização e previsão existe na política portuguesa e também em que mais emoções há: portanto, um momento central da construção do nosso sistema político. De facto, o cidadão comum só pode imaginar os grupos de trabalho fervilhantes numa azáfama de contactos e de elucubrações no sentido de estimarem quantos deputados cada partido pode ter em cada círculo. Também só podemos imaginar as dezenas (talvez centenas) de pessoas ‘em pulgas’ para saber se terão ou não direito a um lugar de deputado e os sonhos que tal situação cria, principalmente em neófitos! O Temp(l)o das Listas é, porventura, o momento mais importante da nossa pobre democracia: e, no entanto, pouca consciência temos disso. Este é o tempo em que uma pequena oligarquia decide em quem os portugueses vão confiar a sua representação nas eleições.
Se fosse uma verdadeira religião, seriam sacerdotes. Como é uma religião laica, são chefes. São eles os organizadores das listas. O grupo dos que decidem mesmo é extremamente restrito. Quantos serão ao certo? No mínimo são 8 (o número de partidos com assento parlamentar), mas dando de barato que pelo menos em alguns casos a decisão final........