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Escavando uma realidade cansada

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14.10.2024

1 Cada instituição em Portugal (educação, saúde, justiça, forças de segurança; etc) tem duas a três situações críticas por ano que ocupam alternadamente a agenda da comunicação social por um período de uma a duas semanas. Exatamente pelo facto de serem situações críticas e alternadas entre sectores, são analisadas, as mais das vezes, na sua especificidade e como pontuais pelos comentadores de serviço. Mesmo quando há uma análise mais abrangente apenas se consegue ir até à necessidade de uma repetida, e já cansativa, reforma estrutural da política daquele sector em particular.

No entanto, o que tal significa é que há situações críticas em todas as instituições de base da nossa sociedade. E elas são, mais provavelmente, tipping points ou pontos de ruptura que evidenciam uma falha sistémica: ou seja, o que talvez possamos chamar uma realidade cansada, em exaustão. É essa realidade cansada que se torna necessário escavar. Os tipping points não são ocasionais ou aleatórios e, creio, que cada vez mais percebemos isso. Assim, sejam os incêndios; a fuga de reclusos; o furto de material militar; a morte de uma grávida a caminho de algures; a morte de jovens na recruta; aluno esfaqueia que colegas e professores… devem ser entendidos como pontos de ruptura e sintomas de uma exaustão, resultantes de uma falha sistémica que se deixa ver 1) numa exaustão e um absurdo quotidianos instalados; 2) numa entropia dos sistemas organizacionais e institucionais; 3) em más políticas públicas ou sua não aplicação e, em última análise, 4) no jogo político e suas perversidades entendidas como normais.

2 A situação nas nossas instituições de base é de exaustão e de absurdo quotidiano. Tal revela-se de muitas formas.

A falta crónica de profissionais, sejam médicos, enfermeiros, professores, profissionais de segurança, militares, técnicos especialistas; a fuga de profissionais de uma instituição para outra; a fuga de profissionais do público para o privado; a fuga de profissionais para áreas abaixo das suas competências; a fuga de profissionais para o estrangeiro; a fuga de profissionais das áreas metropolitanas para pequenas cidades ou mesmo para o campo. Todas estas mobilidades em fuga revelam acima de tudo o cansaço. Mas elas também reforçam a exaustão pois diminuem a eficácias das instituições, levam à perda de competências instaladas, implicam novas socializações e tempos de aprendizagem.

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Um outro aspeto é uma crónica falta de recursos; a existência de recursos mas a sua não adequada disponibilização ou distribuição; uma distribuição de recursos sem relação direta com o esforço de trabalho, o........

© Observador


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