A Gestão do Purgatório
É a segunda vez que Joaquim me telefona já de noite, antes de se deitar, com a mesma ideia. “- Ainda vou morrer primeiro que isto esteja acabado!”. ‘Isto’ é um processo simples (mas nada é simples neste país) de um legado deixado pela sua última irmã: duas contas na Caixa Geral de Depósitos. Eu tento dizer-lhe que não pense nisso, que tenha calma, que o país está cheio de incompetentes, mas que tudo se irá resolver. Que posso eu dizer! Ele pede-me para contactar um advogado e dá-me nomes: Herlander Ribeiro; Bruno José Magalhães. Mas o tempo passou para ele que tem 89 anos como para os outros e nenhum dos advogados está já no activo. E, de facto, isto não deveria nunca precisar de um advogado!
Em ciência basta um caso para que uma teoria seja falsa…e basta um caso para colocar uma hipótese geral. A estória de Joaquim é um caso desses. A hipótese que colocamos neste artigo é que o Departamento de Habilitação de Herdeiros – DHH (neste caso da Caixa Geral de Depósitos) explica-se socialmente mais pela gestão do purgatório do que pela responsabilidade social e pela governança pública.
Novembro é o mês dos mortos. Não só porque os dias ficam mais pequenos, chega o frio e as folhas caem, o ciclo agrícola chega ao fim e alguns animais hibernam, mas também devido ao dia de todos os santos e ao dos fiéis defuntos ou dia dos mortos (1 e 2 de novembro), grandemente no mundo católico, e que se conjugam com o sentido daquele ciclo natural. Nas aldeias, de onde todo o português veio de uma ou de outra maneira, e pelas quais se entende também as cidades e o Estado (o que esquecemos tantas vezes), a vida compreende-se entre dois grandes males: o mal de vivos e o mal de mortos. De facto, a vida faz-se em função de dois grandes medos humanos: o perigo de sermos invejados e o perigo da culpa de ter desejado mal a alguém. Quer a ‘invejidade’ (o ‘mau-olhado’ ou ‘olho gordo’), quer o ‘encosto’ (o ‘mal de defunto’ ou ‘assombramento’) são formas sociais de controlo e gestão de dois sentimentos humanos: o ciúme/inveja por um lado e a culpa/vergonha por outro. Socialmente pode-se considerar que tais mecanismos serviram (e servem ainda) à gestão da desigualdade social, ou seja, à relação entre ‘sociedades camponesas’ (tendencialmente igualitárias) e........





















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