Já sabíamos que Portugal estava em emergência…mas só quando há mortes é que parece haver um problema. Vem isto ainda a propósito do INEM e das 11 mortes que se lhe relacionam. É claro que a falta de médicos de família no SNS e o adiamento de consultas também mata (2024 foi o primeiro ano que a esperança de vida subiu em 2 triénios (2019-21 e 2020-22!) só que mata devagar (ficámos no pior lugar num estudo sobre qualidade de vida na velhice que envolveu cinco países europeus). Já a injustiça, que é uma forte doença social, também mata e não é pouco. Veja-se só este dado: das 25 mulheres assassinadas este ano 6 já tinham feito queixa à polícia. Pelo menos estas 6 foram mortas também pelo Estado. A própria educação também mata. Desde logo faz com que os jovens, cada vez mais filhos únicos (é o país da EU em proporção com mais filhos únicos) tenham de emigrar (o país da Europa com mais emigração e o 8.º no mundo!) em vez de ficar também perto ou mesmo a cuidar dos mais velhos.
A emergência portuguesa não é do INEM e não é só o INEM que mata. A Administração Pública como um todo deveria ser objeto de uma missão de Redesign. Tal deveria ser um objetivo político deste governo e um dos objetivos de missão do PLANAPP e do INA. A não ser assim, estamos condenados a que o INEM enquanto síndrome administracional se evidencie em todos os demais sectores onde já encontramos claros sinais da doença.
Álvaro Beleza num comentário que fez à situação do INEM evidenciou bem essa síndrome administracional ao dizer que já se estava a trabalhar em serviços mínimos há muito tempo e que havia uma degradação de lideranças, de serviços e de valores. E é curioso, e trágico, que as soluções que vão sendo apresentadas para o INEM, e para outros sectores, sejam, apenas, mais dinheiro e mais pessoal. Ora a falta de atratividade da Administração pública não tem a ver apenas com dinheiro. Tem muito a ver com toda a degradação referida.
Comecemos pelas lideranças. Está tudo cheio de lideranças cooptadas: nomeados substitutos. Que é o caso do actual Presidente do INEM. Se tal fosse uma excepção seria aceitável, mas não é! E é com grande à vontade que a ministra diz que acabou de se abrir concurso ao qual este Sr. irá concorrer, potencialmente para ganhar, até porque já ganhou alguns pontos por ser nomeado substituto! Tudo isto é dito normalmente pela ministra sem qualquer hesitação. Ora é aqui exatamente que começa a degradação. O líder de uma instituição (independentemente do seu mérito) está já refém de uma escolha política quando a política teria de escolher de entre três possíveis, o que tornava o escolhido um líder desde logo mais independente. E o seu mérito, a tê-lo, seria mais claro. Agora, quem é que se vai candidatar quando o escolhido já lá está?! Se a CRESAP não serve para........