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Os problemas da teoria da autodeterminação

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16.09.2024

1. Homens e mulheres

Quando Larry Summers, Presidente da Universidade de Harvard, afirmou que a menor presença de mulheres nas ciências se podia dever a diferenças biológicas, o mundo académico norte-americano quase ruiu. Estávamos em 2005 e Summers, envolto em outras polémicas em torno da gestão da universidade, acabou por renunciar à sua posição, deixando uma lição importante à academia: há coisas que não se dizem. Uma lição que James Damore, autor do polémico “Google memo”, viria a repetir em 2017, desta feita no contexto empresarial.

Há coisas que não se dizem, a não ser que se tenha um enorme estatuto, como é o caso de Steven Pinker, famosíssimo psicólogo cognitivo, que saiu em defesa de Summers, destacando que existem, de facto, diferenças biológicas entre os sexos, que resultam de fatores como o papel desempenhado por hormonas e recetores hormonais no cérebro, disparidades na densidade do córtex cerebral e nos núcleos hipotalâmicos e assimetrias corticais. Em Blank Slate: The Modern Denial Of Human Nature (ainda não traduzido entre nós), de 2002, Pinker já havia escrito contra a ideia, muito veiculada nas ciências sociais, de que nascemos tabulas rasas [folhas em branco], quando, na verdade, o comportamento humano é condicionado por elementos que permeiam a nossa psicologia, sobretudo em resultado de adaptações evolutivas.

Importa destacar um aspeto fundamental desta discussão: quando os investigadores se debruçam sobre este tópico, fazem-no a partir de uma apreciação “em média”. Não estão a considerar indivíduos concretos, mas o que podemos saber dos homens e das mulheres enquanto grupo e em média. É a partir daí que podemos ter perceções tão curiosas e estimulantes como as que resultam do trabalho da psicóloga evolucionista Diana Fleischman sobre o modo como homens e mulheres reagem diferentemente a situações de repugnância (e as mulheres reagem, tendencialmente e sem surpresa, mais fortemente a situações de nojo). Muitas diferenças de comportamento têm, como Fleischman nota, razões que se ligam à procriação: as mulheres têm uma janela de oportunidade mais pequena para procriar e uma criança significa um investimento muito maior para a mulher do que para o homem.

Em virtude dessas diferenças, devemos ter cuidado com o desenho de políticas públicas, como diz Helena Cronin, filósofa feminista darwinista, que acusa muito do feminismo atual de ignorar o conhecimento científico e estar, por isso, permeado........

© Observador


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