O que é isso de revolução sexual? (2)
Ao longo da última década, a lista de apóstatas do progresso tem-se tornado mais extensa e interessante. Em 2023, passou a contar com a feminista britânica Mary Harrington, que no livro Feminism against Progress conta o seu percurso de apostasia:
“Fui educada para acreditar na Teologia do Progresso – o enquadramento mais ou menos religioso que regula muito da cultura moderna no Ocidente. Esta teologia diz-nos que há um “lado certo da história” e que as coisas podem continuar a melhorar para sempre.”
Esta teologia do progresso é entendida como intrínseca ao pensamento feminista: as conquistas feministas são apresentadas como prova de que há um caminho de melhoria que está a ser percorrido e do qual não podemos recuar. Nessa medida, o mero facto de olharmos para a ideia de progresso com algum ceticismo – e de considerarmos os riscos dos projetos de engenharia social que dela decorrem e que foram objeto de inúmeras distopias no século XX – é entendido como uma perfídia.
Como devotos da ideologia do progresso, os movimentos feministas são rápidos a acusar aqueles que põem em causa as suas ideias e os seus argumentos: são conservadores ou mesmo, pelos deuses, reacionários. Mas Harrington insiste num olhar desafiador:
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“Podemos escolher um qualquer assunto e veremos que aquilo que, de um ponto de vista, parece “progresso”, na maioria das vezes só nos parece assim porque estamos a ignorar os custos”.
E decide, de modo espirituoso, chamar feminismo reacionário ao seu feminismo contra o progresso, posicionando-se, em particular, contra o feminismo “Team Freedom” que assenta num “bio-libertarianismo”. Nas suas palavras:
“Contra os desenvolvimentos tecnológicos que prometem libertar-nos do amor, do desejo e da própria natureza humana, reafirmar estas verdades é um ato de resistência feminista. Já somos suficientemente livres. O que precisamos é de mais e melhores obrigações: um feminismo que procure os limites........© Observador
