O legado de Enoch Powell |
Enoch Powell é uma das figuras mais controversas da política britânica – e, provavelmente, o mais polémico de todos os conservadores até Margaret Tatcher – em resultado do seu discurso, de 1968, conhecido como “Rivers of blood”, que José Manuel Fernandes recordou recentemente. Para uns, é um herói com coragem para dizer a verdade; para outros, um vilão racista que procurou incendiar os ânimos. Mas o seu percurso político merece uma referência muito mais ampla do que esta polémica.
Em 1965, quando se candidata à liderança do Partido Conservador, Enoch Powell apresenta uma visão política para o país que ficaria conhecida como Powellism e que assentava na defesa, por um lado, do mercado livre e, por outro, da identidade britânica. Esta combinação entre capitalismo de mercado e nacionalismo é, na verdade, característica da “New Right” anglo-saxónica, que se distancia da Nova Direita mais continental – sobretudo inspirada na “Nouvelle Droite” francesa e Alain de Benoist – que liga a identidade nacional a uma crítica à ideologia capitalista. Foi esta visão política que tornou Powell desconfiado da influência norte-americana que, crescentemente, se fazia sentir no Reino Unido, e também que o levou a opor-se à adesão do Reino Unido à Comunidade Europeia e a criticar um estado demasiado intervencionista.
Por detrás destas ideias, encontra-se um intelectual brilhante e um renomado classicista. A sua precocidade era de tal ordem que os pais o tratavam por “Professor” quando tinha apenas três anos;........