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A tragédia da realidade

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07.10.2024

Em Tragedy, The Greeks, And Us, Simon Critchley propõe a tragédia grega como abordagem filosófica. Essa filosofia da tragédia assentaria no princípio de que a tragédia é a experiência da ambiguidade moral. Afinal,

“[o] certo está sempre em ambos os lados e, invariavelmente, também está o errado. A justiça é um conflito, o que significa que a justiça está dividida. A justiça não é uma, mas pelo menos duas. Este facto pode ser encontrado em todo o lado na tragédia, mas é mais evidente na Oresteia.”

A ambiguidade moral e a complexidade natural da realidade tornam, ao contrário do que gostamos de admitir, difícil afirmar com certeza o que está certo e o que está errado. E talvez seja por isso que a grande pergunta filosófica, que nos persegue desde os gregos, seja fundamentalmente uma: a de saber o que devemos fazer.

Permitindo refletir sobre a ação, a tragédia torna simultaneamente evidente a ilusão de autonomia (a ideia de que somos seres absolutamente autónomos e capazes de tomar autonomamente decisões), mas também a ilusão da irresponsabilidade (a ideia de que a infortuna resulta do azar ou da intervenção desdenhosa dos deuses e do destino, sem qualquer responsabilidade da nossa parte). Embora muitas leituras da tragédia convoquem uma ideia do homem como vítima das circunstâncias ou como um fantoche nas mãos dos deuses, Critchley apresenta uma versão diferente:

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“A tragédia exige um certo grau de cumplicidade da nossa parte no desastre que nos destrói. Não se trata simplesmente de uma atividade malévola do destino, de uma profecia sombria que decorre da vontade inescrutável, mas muitas vezes questionável, dos deuses. A tragédia exige a nossa conivência com esse destino. Por outras palavras, exige uma grande dose de liberdade”.

Mais uma vez, Rei Édipo é um bom exemplo: o decifrador de enigmas já dispunha........

© Observador


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