A tentação do inevitável |
Regressemos ao historiador Dominic Sandbrook e à sua entrevista a Francis Foster e Konstantin Kisin. A perspetiva de Sandbrook fundamenta-se no seu conhecimento da história: a violência, a guerra e o conflito estiveram sempre presentes na história da humanidade, apesar de aqueles que nasceram após a segunda guerra mundial e cresceram em tempos de afluência e conforto material terem a tendência para o esquecer.
É contra a ilusão da paz perpétua que Sandbrook se coloca e, por isso, quando Francis Foster o confronta com o atual clima de conflito e insegurança, marcado por diferenças económicas e insatisfação política, e lhe pergunta se o futuro o preocupa, Sandbrook responde de uma forma pouco convencional. O historiador reconhece que, com muita probabilidade, os próximos tempos serão piores e muito mais conflituosos do que as últimas décadas, mas isso não o preocupa: a vida é assim, é isto que sempre acontece – e, por isso, ensina ao filho a lição mais importante que retira da história: “é provável que os teus vizinhos te tentem matar, por isso tem a certeza de que os matas primeiro”.
A resposta é surpreendente, e até divertida, mas Sandbrook explica: não vale a pena preocuparmo-nos com o que sabemos que vai acontecer; sabemos que o verão vai acabar e o inverno vem aí – logo, é um desperdício de energia preocuparmo-nos com isso. E a razão reside no facto de a natureza humana não se alterar. Tivemos muita sorte em viver tempos tão pacíficos e afluentes como os nossos – mas eles são a exceção.
É provável que Maquiavel, entrevistado hoje para um podcast do género, expressasse uma ideia semelhante. Um aspeto central do seu pensamento – e que encontramos tanto n’O Príncipe como nos