menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

A luta pela verdade (3)

9 6
18.02.2025

A modernidade de que somos herdeiros, moldada pelo pensamento contratualista, assenta em dois princípios políticos fundamentais: igualdade e liberdade, como correspondendo à condição natural do homem e que o contrato social procuraria reproduzir, de maneiras diferentes pelos diferentes contratualistas, com a instituição do estado civil. Não é, por isso, surpreendente que as revoluções liberais que deram origem ao paradigma contemporâneo tenham conduzido, com tempo e adaptações, ao regime político antigo que institucionalizava aqueles dois valores: a democracia seria o governo do povo, pelo povo e para o povo na medida em que todos os cidadãos teriam o direito igual de participar na governação do país e a determinar as suas leis, ou seja, as suas condições de liberdade.

Francis Fukuyama usa o termo isotimia para referir que a democracia assenta no desejo de reconhecimento como igual, o que a distinguiria de regimes aristocráticos, em que o reconhecimento é procurado pela minoria que se responsabiliza pela cidade. Mas a igualdade que a democracia promete reconhecer é, necessariamente, uma ficção: o regime democrático ficciona que todos os cidadãos são iguais, apesar de todas as diferenças – intelectuais, físicas, de competências – que dão forma às pessoas reais. A realidade é, por excelência, o domínio da diferença.

A verdade é que, da mesma forma que nem todos podemos ser o melhor jogador do mundo, nem todos podemos ambicionar ser políticos carismáticos. Mas as ficções são dotadas de um tal poder que somos levados, pelas suas narrativas, a tomar como real o que é mera abstração. E é pelo efeito desse poder que, nas sociedades democráticas, se tende a considerar que todas as opiniões são igualmente válidas e legítimas, independentemente do conhecimento e das competências específicas que se aplicam em cada área (na ciência, na arte, no........

© Observador