O Papa não é um idiota útil

As relações entre os Estados não podem viver de remoques e cegueiras ideológicas. Mas daí não se pode constantemente concluir que as autocracias devam ser normalizadas. Eliminar contactos com um país só porque ele não é uma democracia é de todo insensato. Achar que todos estamos ao mesmo nível é, igualmente, ridículo. Não existe vida política sem realismo e pragmatismo, mas ambas, sem virtude, são mero calculismo. E, neste aspeto, é preciso que nos deixemos de rodeios: isso não se faz em picardias e trocas de galhardetes nas redes sociais entre políticos e celebridades, ou em discursos de circunstância gravados numa margem do oceano, para a outra ouvir cordialmente.

Um exemplo que rompe com este paradigma de letargia é a visita do Papa à Turquia e ao Líbano, na passada semana. Em especial, o seu fortíssimo discurso em Ancara que, infelizmente, passou despercebido, e a sua atitude mais mediática de não rezar de maneira explícita na Mesquita Azul. Sobre as duas, creio que a conclusão que podemos tirar é que o Papa não manda recados por ninguém. Não se vai queixar para as plataformas digitais, nem idolatrar os seus pares para casa. Diz o que tem que dizer e faz o........

© Observador