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As incoerências do Natal

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22.12.2024

Quem contemplar os presépios monumentais de Machado de Castro, encontrará uma infinidade de imagens. Para além da cena central, invariavelmente composta por Jesus, Maria e José, é costume acrescentar os pastores, referidos por São Lucas no seu relato do nascimento em Belém, bem como os Magos, a que se refere São Mateus.

Ao longo dos séculos, a imaginação dos presepistas encarregou-se de preencher a representação do Natal com personagens mais ou menos verosímeis. Presépios há que incluem até a reprodução, em miniatura, da matança do porco, impossível para um povo que estava absolutamente proibido de comer essa carne. Também aparecem igrejas, com os seus párocos, numa anacrónica antecipação do que seriam as aldeias cristãs, que esses presépios, pouco históricos mas muito imaginativos, procuram recrear.

Se há, como não podia deixar de ser, variedade no modo como se representa o nascimento de Jesus, todos tendem a copiar o que São Lucas escreveu no seu Evangelho. Com efeito, é este evangelista que refere a impossibilidade de Maria e José se hospedarem na pousada de Belém (Lc 2, 7), que provavelmente estava lotada pela mesma razão que os levara a deixar Nazaré: o recenseamento obrigava ao registo de cada família na terra de onde era oriunda. Sendo José da casa e família de David (Lc 1, 27, Mt 1, 20), era originário de Belém, embora vivesse em Nazaré, onde exercia o ofício de carpinteiro (Mt 13, 55).

O recenseamento não apenas servia para contabilizar a população, para efeitos bélicos e fiscais, mas também para actualizar o registo das terras, um pouco ao jeito das inquirições medievais. Neste sentido, se José tivesse alguma propriedade em Belém, tinha........

© Observador


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