Leigos: a palavra fácil, o desafio difícil

Fala-se muito dos leigos. Nos documentos, nos discursos, nas formações pastorais. Fala-se deles como “protagonistas da evangelização”, “força viva das comunidades”, “parceiros indispensáveis”, “rosto da Igreja no mundo”. Mas a pergunta decisiva raramente é enfrentada com realismo: de que leigos estamos a falar quando pedimos uma colaboração efetiva?

A experiência pastoral mostra que a resposta não é linear. Fui pároco e conheço por dentro a distância entre o discurso ideal e a realidade concreta. Em muitos contextos, sobretudo rurais, o laicado é composto por pessoas de fé sincera, mas cuja formação cristã se esgota no que receberam em crianças, moldada por práticas devocionais repetidas sem crítica, e reforçada por tradições paroquiais que sobrevivem mais por inércia do que por consciência. A fé existe, mas não amadureceu; permanece enraizada em hábitos e não se transforma em discernimento.

Quando se fala, por isso, em “dar lugar aos leigos”, é legítimo perguntar que lugar é possível dar e a quem. Porque uma coisa é trabalhar numa paróquia urbana, onde encontramos facilmente homens e mulheres com percurso académico sólido, pensamento estruturado, capacidade de ler, interpretar, perguntar, e assumir responsabilidades com maturidade. Outra coisa, totalmente diferente, é a realidade maioritária das paróquias portuguesas: aldeias com comunidades envelhecidas, onde a única pessoa com hábitos de leitura é, porventura, uma professora primária já reformada; onde a catequista que fez um curso básico já se sente autoridade teológica; onde a prioridade da comunidade é a festa anual e não a formação cristã; e onde a “senhora zeladora”........

© Observador