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Os Despojos do Dia

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11.01.2025

Tempos houve, não assim tão longínquos, onde a política se fazia de enormes princípios, tremendas opções, grandes escolhas entre alternativas com seríssimas consequências. A sociedade, dada a gravidade das questões, era chamada, fosse de uma forma mais ou menos formal, a ter uma opinião sobre os diversos assuntos, transformando-se as tascas, esplanadas e salas de estar espalhadas pelo país em verdadeiras arenas de discussão política que, reflectindo a importância das decisões a tomar e do caminho a escolher, se eriçavam em ardentes e apaixonadas tomadas de posição. As grandes ideologias, as grandes causas, os grandes princípios flamejavam nos corações de vizinhos, familiares e amigos, ou até mesmo perfeitos desconhecidos, que, de mão no peito, queixo para fora e pulmões fulgurantes, por entre gritos, berros e suspiros, quando não mesmo chegados a vias de facto, fiscalizavam, criticavam, peroravam, não deixando assim de participar, quanto mais não fosse pela discussão, nos destinos do país.

Hoje, a vida mudou. Portugal segue tranquilamente a reboque da UE, uma proto-federação político-burocrática onde o país se dissolveu voluntária e alegremente, sempre de mão estendida pelo subsídio, o PRR e o QE do BCE, isto enquanto implementa, de pin na lapela e sem qualquer discussão, a Agenda 2030 lamuriada por Guterres e propagandeada por tudo o que é ONG, activistas estilo Greta ou agências de investimentos financeiros globais “verdes”. O problema do destino político português está, portanto, para mal dos nossos pecados, resolvido. Daí que as oposições ideológicas às bases liberais e democratas do regime, se não desapareceram, então, à falta de melhor termo, aburguesaram e resignaram-se.

Na extrema-esquerda, grupelhos de fanáticos ideológicos anacrónicos e delirantes vão se cindindo, incompatibilizando, desorganizando em associações cada vez mais puras, logo mais minúsculas e irrelevantes também, isto incluindo o PCP que, moribundo, serve agora apenas para aferir a cada acto eleitoral a rapidez com que a geração de 74 vai desaparecendo. O resto, de facto, aburguesou. Desde logo, o BE que mandou Louçã, o padreco moralista anticapitalista do palanque tornado púlpito para, imagine-se, o respaldo atapetado e faustoso do Banco de Portugal onde, junto com profusas vetustas figuras do regime, agora usa o seu mais anafado traseiro para polir o couro engraxado dos sofás onde se discute a alta finança nacional. A sua sucessora, Catarina Martins, essa antiga actriz activista que exortava a que se urinasse fora do penico, foi igualmente reformada, neste caso para Bruxelas com direito a mais de 20,000 euros mensais, motorista e voo semanal em primeira classe para vir visitar o burgo ao fim-de-semana. No entretanto, e iluminando o caminho ao último resquício de activismo pseudo-feminista que por lá perdura, declarou-se o BE “social-democrata”, isto para justificar um pouco como juntar a bota, agora debruada a ouro e renda, com a perdigota que ainda se cospe e baba por Fidel, já morto, Maduro e, claro está, o santificado Ché, hoje em dia reduzido a marca copyright para impressão de t-shirts. Eleitoralmente, o caminho acelera para o abismo, o grupo parlamentar para a irrelevância, e o partido para o eterno final de todos os projectos socialistas — o endividamento e a falência.

Por aqueles lados, com algum sucesso e esperança, sobra apenas o Livre desde que o seu verdadeiro líder se livrou do simulacro de abertura inclusiva com que, por debaixo do frondoso vestido encarnado de uma mulher, convenientemente negra e gaga, bem como inconvenientemente perspireta e senhora do seu nariz, tinha posto o pé na Assembleia. Ainda assim, esta nova........

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