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Os sonsos

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30.07.2024

É uma discussão antiga, bem sei. E quiçá perdida. Mas a forma como em Portugal sobrevive mediaticamente uma esquerda não democrática que passa por moderada e mesmo pró-democrata voltou, por estes dias, graças às eleições venezuelanas, a merecer um pedacinho de atenção.

Quando morreu Otelo Saraiva de Carvalho, Carmo Afonso escreveu no Expresso que o que o distinguia do general Spínola era que, enquanto este último pretendia «a reposição da ditadura do antigo regime», Otelo desejava «a concretização da revolução de abril no seu radicalismo, a imposição da ditadura do proletariado», e que, tendo morrido esse «sonho da ditadura do proletariado», ele «não nos envergonha[ria]». Repare-se na dicotomia: não se trata de uma disputa entre democratas e autocratas, mas entre ditaduras, das quais uma delas é boa e a outra má; ora, a primeira, a ditadura boa, é sobejamente tratada como democracia, o que acaba por conduzir a debates demasiadas vezes surdos e onde não raras vezes acaba por vencer a sonsice e a desfaçatez de quem defende ditaduras a que chamam democracias, por falta de escrutínio político, cultural e mediático.

É mesmo absurdo que, cinquenta anos depois, se mantenha viva a ideia........

© Observador


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