O bocejo possível
Por fim, bocejemos: o Estado terá o seu Orçamento. Adivinhando-se já a aprovação de um documento cujo conteúdo se desconhece, depois de semanas de uma tensão que esmaga os espíritos mais toscos, toda feita de trocas de acusações a respeito de um documento cujo conteúdo ninguém conhecia, emaranhados na desgraçadamente pobre, mas encantadoramente feliz, discussão sobre duas míseras propostas fiscais, assegura-se agora a continuidade do Governo e das oposições por mais tempo do que se terá pensado, fruto da famosa e apreciada habilidade política e do calendário imposto pelas normas constitucionais.
Bocejemos, pois. O Orçamento, tal qual ele se prevê, nada muda, nada transforma, nada promete, ou não seria sequer aprovado. Não esboça sequer um pequeno rasgão sobre o futuro de um país que já não é bem um país, antes uma comunidade de tansos felizes e ruminantes, que voltam, perante a alternância partidária, a mascar pratos já mastigados, regressados do estômago à boca. Seria um descanso, em teoria, este........
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