Deixar-se ir e chegar
Z. Zagalo dizia, a respeito da carreira do sogro do conde d’Abranhos, que o desembargador Amado «deixou-se ir e chegou». É, talvez, a expressão que tudo define. Eça de Queirós não era um sociólogo, terá sido mesmo, de certa forma, injustamente olhado como um retratista de época, que o foi menos do que um observador atento de certos tipos de cidadão português que têm percorrido épocas, regimes, sociedades, modas. «Deixar-se ir e chegar» é a frase definidora de uma certa, e naturalmente generalizada, categoria de elite portuguesa, como quem alcança sem esforço e sem glória, sem saudade e sem registo, embalada por uma conjuntura imutável toda ela feita de gente que se deixa ir e lá vai chegando, em socorro e amparo dos demais imbecis espíritos de Corte, naturalmente extractivos, vulgarmente solidários com a estupidez dos congéneres.
Recordei-me, por estes dias, e a propósito já nem me lembro bem de quê, do saudoso Artur Baptista da Silva, um burlão a quem alguma comunicação social deu – por alturas,........
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