A novela em torno da viabilização ou não do próximo Orçamento do Estado transformou-se numa produção de duvidosa qualidade. Os atores esforçam-se, mas os episódios repetem-se, o argumento é previsível e as surpresas não surpreendem. Em rigor, ninguém sabe exatamente como vai acabar e é isso que vai valendo. Mas, aprovado ou não o Orçamento do Estado, evitada ou não a crise política, já se percebeu que a novela se arrastará penosamente até ao fim, com o país mediático agarrado à cadeira e o país real enfadado e maioritariamente indiferente, sem perceber exatamente o que querem efetivamente os protagonistas, o que os afasta e os aproxima para lá de todos os jogos florentinos e cálculos políticos.
Luís Montenegro, nos dias em que não anda de lancha deixando-se fotografar como um super-primeiro-ministro de capa e collants (aprendeu-se muito pouco com o quão prejudicial foi o lufa-lufa de políticos nas operações de Pedrógão Grande), a prometer bónus a pensionistas, passes ferroviários para comboios que não existem, a cativar os mais jovens ou a descativar as carreiras da administração pública que dão votos, vai jurando a pés juntos que não pensa em eleições. Ceci n’est pas une pipe, o Governo está empenhadíssimo em evitar uma crise política e em negociar com o PS – menos nos dias em que ataca e provoca o adversário com quem diz querer negociar.
Montenegro fá-lo porque sente que o pode fazer, naturalmente. Tem sido aquilo que, secretamente, sempre se propôs ser: uma versão melhorada de António Costa, a competência na continuidade, um projeto de renovação indolor. Se António Costa teve maioria absoluta em 2022, à terceira eleição, depois de seis anos de governo e com uma diferença de quase um milhão de votos em relação ao PSD, foi porque tinha um projeto político e de país convincente. Sem surpresa, e apesar de subsistirem alguns........