Com amigos assim quem é que precisa de inimigos?

Se eu fosse ucraniana, teria medo dos amigos da Ucrânia. Como “os amigos sinceros” europeus que, três anos e meio após a invasão russa, nunca lhe deram um único soldado, mas juram solenemente que lhe darão “dezenas de milhares”, se e quando ela for invadida novamente. Afinal, se isso viesse a acontecer, a ingrata tarefa de “lutar até ao último ucraniano” não lhes caberia a eles decidir, mas a quem vier depois deles. E estes, é claro, diriam: “Nunca prometemos nada. Essa promessa não é nossa, mas de Macron, Starmer, Merz, Costa, Von der Leyen e daquela outra – qual é mesmo o nome dela? Ah, sim, Kallas”. Então, quando nos prometem “garantias de segurança”, penso: mas se até agora nenhum deles nos deu qualquer garantia de segurança, porque deveríamos acreditar que nos darão em caso de futuras invasões?

Então eu leria o famoso artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte, aquele que eles querem aplicar à Ucrânia sem incluí-la formalmente na NATO. E descobriria que, em caso de ataque a um membro da NATO, cada um dos aliados o “auxiliaria” com “as medidas que julgar necessárias, incluindo o uso da força armada”, sem que tal uso seja obrigatório. E se hoje ninguém está obrigado a declarar guerra ao aliado atacado, muito menos amanhã a um Estado que não é membro.

Descobriria, também, que o debate sobre o envio de tropas europeias para a Ucrânia não é novo e encalha sempre no mesmo ponto: oferecer garantias de segurança implica correr riscos, e o risco é ter que lutar pela “amada” Ucrânia. Ora, alguém acredita que a França, a Alemanha, Itália, Polónia, Reino Unido ou Finlândia estejam prontas e dispostas a lutar contra os russos para defender a Ucrânia? Alguém acredita que os governos desses países obteriam luz verde dos seus respectivos parlamentos e da opinião pública para vincularem a segurança da Ucrânia à sua própria segurança nacional, impondo uma intervenção militar contra a Rússia? Se o leitor conhece alguém que acredita nisso, por........

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