Crónica demasiado intimista

1 Dizem Agosto o mês “dos outros”. Esses anónimos “outros” que fiquem com o ruído, entalados em filas escaldantes de automóveis, correrias apressadas, lotações esgotadas em praias, mesas, esplanadas, parques; sobrelotação em supermercados, caixas de pagamento, estacionamentos; impaciências de alto grau na imprevista procura de um dentista ou de uns óculos. Isso: Agosto fora de casa. Mas talvez porque agora, que já foi passando, doce ou dolorosa, muita vida sobre cada um dos nossos verões, estou cada vez mais certa de que não se pode deixar encaixar assim Agosto, em tão má reputação. É preciso saber lidar com ele, descobrir-lhe o avesso e não, não penso em “resorts” — detesto a palavra e a entediante vida que ela propõe —, nem em fantasiosas escapadas para descampados com uma tenda às costas.

2 O mês dos “outros”? Depende. Nunca deixaria difamar o nosso Agosto, apesar de duro, hostil, brumoso, atlântico. Ondas altas, maresia, neblinas, mas de repente, sem pré-aviso, quietude e suavidade. Foi uma escolha. Agosto sempre aqui, cheio e vivido desde que formei a minha própria família, cada vez mais vivido e mais cheio desde que ela cresceu e se multiplicou. Hoje somos muitos — em casa, à mesa, no jardim, no futebol, no cabanão, nos mergulhos, nos concursos, nos jogos. Nas conversas: intergeracionais, participadíssimas, de mais que um credo político ou um credo tout........

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