A favor das Assembleias "descentralizadas" |
Um dos aspectos mais interessantes da política é a competência dela para nos desfazer atalhos mentais, distinguindo sem misericórdia a sabedoria, para um lado, e o preconceito, para o outro. Distinção, claro está, reservada a cérebros atraídos por estas curiosidades. Descendo ao concreto, aterramos, por exemplo, nas Assembleias Municipais “descentralizadas”.
São reuniões da Assembleia Municipal de Lisboa fora das instalações habituais (no antigo cinema Roma). Cada uma das “descentralizadas” acontece numa freguesia diferente, e procura-se que todas as freguesias tenham direito à sua “descentralizada” pelo menos uma vez ao longo do mandato. Vinte e quatro “descentralizadas” distribuídas ao longo de quatro anos; ou, mais coisa menos coisa, uma “descentralizada” a cada dois meses. Além do lugar, as “descentralizadas” também obedecem a um horário diferente: raramente começam antes das seis e meia da tarde; e a Ordem dos Trabalhos limita-se a um ponto único: ouvir os munícipes. De resto, o próprio horário foi pensado para facilitar a vinda das pessoas ao final do dia, depois do trabalho.
Tinha tudo para despertar os meus instintos antipáticos. “Descentralização não é mandar os ministros às autarquias”, nem é “pegar no Terreiro do Paço puxado por um Mercedes e andá-lo a passear pelo país”; “as populações não precisam de demagogia”, explicou Sá Carneiro a Mário Soares num famoso debate sobre “poder local”. E sabemos hoje,........