As Tormentas da Nossa Identidade e Camões

Inspirados por Luís Vaz de Camões, encontramos na sua obra, não apenas a celebração das nossas conquistas enquanto povo, mas também valiosas lições sobre a essência da nossa sociedade, reflexões profundas sobre o conceito de família, ensinamentos relativos à resiliência das pequenas e médias empresas diante das adversidades, e a necessidade de um debate político, com maior urbanidade. Ao abordar essas quatro dimensões, somos levados a questionar, de que forma podemos construir uma identidade assente no que nos transmite e ensina o maior poeta português.

Sociedade “Vereis amor de vós nos estrangeiros/Com quem tereis comércio e amizade” (Os Lusíadas, Canto X)

Numa época em que as redes sociais fervilham de vozes, ecoando a exaltação da portugalidade, é difícil não recordar os versos de Camões, que, nos seus Os Lusíadas, não apenas consagrou o feito dos navegadores, mas também moldou uma identidade nacional que, à semelhança do Cabo das Tormentas, se ergue entre dificuldades e conquistas. A glorificação da portugalidade, se não acompanhada por uma aceitação genuína da diversidade, transforma-se numa armadilha. O Adamastor, que Camões descreve como “monstro em forma de homem”, é um reflexo da luta pela nossa essência, mas também do medo que se interpõe entre os povos. A verdadeira grandeza de uma nação não reside apenas nas suas conquistas, mas também na capacidade de acolher e integrar todos os que nela habitam.

A frase “Isto não é o Bangladesh”, utilizada em cartazes do Chega, ecoa um discurso de xenofobia que se opõe ao espírito inclusivo que deveria caracterizar a nossa sociedade. A riqueza d´Os Lusíadas reside na celebração da diversidade, onde Camões escreve: “Vereis amor de vós nos estrangeiros /Com quem tereis comércio e amizade”. Camões descreve uma visão sobre o futuro de Portugal, destacando a abertura ao mundo e a convivência com outros povos através do comércio e da amizade. É uma clara mensagem de........

© Observador