O lugar onde Deus ainda quer nascer

Há um paradoxo que regressa todos os anos: quanto mais cedo acendemos as luzes de Natal, mais tarde o Natal acontece realmente. A pressa com que montamos cenários contrasta com a lentidão do coração em despertar. Multiplicamos brilhos, mas diminuímos silêncio. É como se o Natal fosse ficando reduzido a um dispositivo decorativo, uma espécie de ilusão luminosa que, por muito bonita que seja, não chega a tocar o que verdadeiramente importa. É por isso que podemos ter a cidade inteira iluminada e, ainda assim, sentir um escuro que não passa.

A maior revelação do presépio permanece desconcertante para qualquer época: Deus nasce no lugar menos evidente. Não se impõe, não ocupa o centro, não avança pela força. Escolhe a fragilidade humana, a intimidade doméstica, a pobreza desarmada. O presépio é o oposto da grandiosidade: é o gesto mais radical de humildade divina. O........

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