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Padeira de Aljubarrota, figura heroica ou monstro?

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19.05.2025

A Batalha de Aljubarrota, travada em 14 de agosto de 1385, é uma data inesquecível na história portuguesa.

Neste campo de batalha, o exército português, liderado por D. João I e pelo Condestável Nuno Álvares Pereira, derrotou o exército castelhano, consolidando a independência de Portugal. Este episódio não foi apenas uma vitória militar, mas o culminar de uma crise dinástica que ameaçava a soberania do reino português.

As táticas defensivas brilhantes e a utilização do terreno — como as trincheiras e a formação de tipo “V”, ou de ponta de flecha — elevaram este acontecimento a um exemplo de astúcia militar. O cronista Fernão Lopes, nas suas crónicas do século XV, documenta detalhadamente o engenho do exército português e a escala catastrófica da derrota castelhana, descrevendo a batalha como um momento “para memória perpétua” na história do reino (Fernão Lopes, Crónica de D. João I).

Após a derrota, o exército castelhano perdeu completamente a organização e a disciplina. Incapazes de se reagrupar, os soldados castelhanos fugiram desordenadamente numa retirada caótica.

O caos que se seguiu foi acompanhado por uma perseguição implacável. As tropas portuguesas, reforçadas por milícias camponesas e civis, seguiram os fugitivos ao longo de quilómetros, eliminando muitos soldados que tentavam escapar. Este foi, sem dúvida, um retrato cruel da guerra medieval, onde a clemência para com os vencidos era uma prática rara.

A crónica referida acima documenta este momento, sugerindo que a participação das milícias e camponeses desempenhou um papel significativo. É deste contexto que nasce a lenda da Padeira de Aljubarrota. De acordo com a tradição oral, Brites de Almeida, uma mulher de força impressionante, encontrou soldados castelhanos escondidos na sua padaria. Lidou com os invasores usando a sua pá de pão, simbolizando a coragem do povo português durante este período. Versões mais macabras da lenda acrescentam que os corpos dos soldados foram escondidos ou queimados no forno de pão.

Não existem registos históricos que comprovem a existência da senhora Brites de Almeida, uma figura ausente em descrições contemporâneas como as crónicas de Fernão Lopes. Nesse sentido, ela pertence claramente ao reino das lendas e ao imaginário colectivo nacional.
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