Saúde Oral: rede de promessas, cheque de silêncio

O Ministério da Saúde anunciou recentemente, com pompa institucional e verniz político, a criação de uma “rede nacional de saúde oral” baseada no setor privado e no setor social. Sim, leu bem: não no Serviço Nacional de Saúde, que tem gabinetes de medicina dentária espalhados pelo país — dezenas deles encerrados, subutilizados ou em estado vegetativo. Mas numa rede paralela, terceirizada, colaborativa, inclusiva, resiliente e, claro, convenientemente opaca. A saúde oral pública – essa, paga pelos contribuintes e equipada com gabinetes que repousam em centros de saúde espalhados pelo país – fica de fora. Talvez porque já foi paga, e, convenhamos, o que já está pago não dá votos, nem cria manchetes. Organiza-se uma rede paralela, contratando o setor privado e o setor social, como se fosse impossível aproveitar o que já existe. É como ter um carro na garagem, pago a prestações, e decidir andar sempre de táxi porque dá menos trabalho.

Tudo isto, apesar da Secretária de Estado da Saúde ter garantido que esta nova rede irá ter em vista os gabinetes de saúde oral que existem nos cuidados de saúde primários. A expressão “ter em vista” é particularmente reveladora: não se trata de os........

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