Reflexão sobre o podcast com o depoimento do filho de Otelo |
Hesitei várias vezes antes de comentar o podcast “A Vida em Revolução” (1 e 2), onde o filho de Otelo Saraiva de Carvalho apresenta a sua leitura dos acontecimentos e a imagem que guarda do seu pai. Por um lado, surgem ali várias afirmações que não são verdadeiras, estão descontextualizadas ou claramente desenquadradas. Outras são apenas opiniões pessoais, subjectivas mas compreensíveis na perspectiva de um filho.
Como a generalidade das pessoas sabem, sou filho de uma vítima das FP25. O meu Pai, Gaspar Castelo-Branco, Director Geral dos Serviços Prisionais, foi assassinado pelas FP25, com dois tiros na nuca, no cumprimento do dever. É nessa qualidade que escrevo este texto, sem antes reconhecer algum cuidado no modo como o filho de Otelo aborda certos temas que me são particularmente sensíveis, cuidado esse que protege as vítimas, mas também o próprio emissor. Mas, nem sempre esse cuidado existiu no passado.
Dedico-me apenas ao papel do Otelo na organização terrorista FUP/FP-25, deixando os temas do COPCON, 25 de Novembro, GDUP e etc., que carecem de igual comentário e correção para as minhas páginas pessoais do Facebook, Substack (com um texto mais extenso) e X.
Mas vamos aos factos pegando em afirmações que transcrevi na entrevista.
“Otelo foi convencido pela ala esquerda a fazer-se representar”
Os GDUP (Grupos Dinamizadores de Unidade Popular) eram um partido político patrocinado por Otelo e formado na sequência do seu sucesso nas eleições presidenciais de 1976. Os GDUP foram oficializados em congresso, em novembro desse ano, e concorreram às eleições autárquicas, não alcançando mais do que 2,51%. Longe dos resultados que Otelo tinha tido nas Eleições Presidenciais uns meses antes.
O GDUP foi o PRD de Otelo. Eram de facto, um cocktail de extrema-esquerda e Otelo sabia disso. Este não pôde ocupar a presidência dos GDUP, cargo que estava em aberto porque lhe tinha sido reservado, mas que ele não podia formalmente ocupar por ser militar no ativo. Devido à sua intensa atividade política — primeiro na constituição dos GDUP e, mais tarde, na criação da OUT (que viria a ser o embrião das FP-25) —, totalmente incompatível com o estatuto militar, foi inicialmente sancionado com 20 dias de prisão em Caxias (pelo CEME, então o general Rocha Vieira) e, posteriormente, passou à reserva compulsivamente por resolução do Conselho da Revolução.
A atividade política partidária estava vedada a........