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O meu 25 de Novembro

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22.11.2024

Estamos a três dias do 25 de Novembro. Ocasionalmente revisito a biografia de Lucas Pires cuja actualidade do pensamento é sempre surpreendente. Dizia ele que o 25 de Novembro foi um resultado em que «vencedores e vencidos querem o socialismo, tal e qual o mesmo», pelo que o país teria, assim, caído “no mais fundo do vazio”. E, segundo ele, “quem não for socialista é que precisa de ter o ónus da prova, apesar de o socialismo democrático não existir em parte nenhuma do mundo e, entre nós, só ter dado, como Governo, más provas”.

Enquanto Sá Carneiro recuperava de uma profunda depressão no Sul de Espanha, o PSD, sob a liderança de Emídio Guerreiro, demonstrava um fervor revolucionário que, por vezes, ultrapassava mesmo o dos socialistas. Paralelamente, o CDS, ainda a tentar afirmar-se e a lutar pela sobrevivência, limitado ainda aos seus 7,6% era liderado por Freitas do Amaral, que não tinha as características nem as convicções para encabeçar qualquer tipo de movimento nacional. Este foi, para o bem e para o mal, o 25 de Novembro do PS de Mário Soares. Mas, como mais uma vez referia Lucas Pires, foi a vitória do ‘bom socialismo’ sobre o ‘mau socialismo’, uma solução que não era peixe, nem carne, uma espécie de amor impossível entre ‘o horror do pecado liberal’ e ‘o inferno soviético’, para agradar a todos, desde os mais socialistas, ainda iludidos pelo marxismo, até aos mais sociais-democratas, que, apesar de tudo, vislumbravam méritos na economia de mercado.

O 25 de Novembro cumpriu apenas um dos D do 25 de Abril – Democratizar, uma vez que a Descolonização estava (mal) feita e o Desenvolvimento tardou muitos anos a alcançar. O 25 de Novembro foi, indiscutivelmente, uma data que nos afastou do perigo de uma ditadura comunista ou do terceiro-mundismo marxista. Uma data que definitivamente criou uma fronteira clara entre dois polos: o vencedor, que professava a democracia liberal semelhante às do resto do mundo ocidental; e um vencido, totalitário, que acreditava que o poder só se conquistaria através de uma revolução. Uma data que expulsou Álvaro Cunhal e o PCP do Governo do País, que substituiu um Corvacho por Pires Veloso, um Rosa Coutinho por Jaime Neves e por fim, um Otelo (ao qual me apetece acrescentar um enorme rol de adjectivos) por Ramalho Eanes. Só com o 25 de Novembro foi possível criar as condições para eleger a primeira Assembleia Legislativa e o primeiro Governo Constitucional, numas eleições que, apesar do Pacto MFA/Partidos, só não foram absolutamente livres porque deixaram de fora alguns partidos à direita. E apenas depois da aprovação de uma Constituição limitadíssima pelo Acordo da Plataforma Constitucional, cujo texto e o preâmbulo pareciam mais saídos de um País satélite soviético do que de uma democracia ocidental pluripartidária, consagrando nela as conquistas revolucionárias.

Por isso, o 25 de Novembro consolidou o 11 de Março e as conquistas irreversíveis do PCP. O princípio da irreversibilidade das nacionalizações demorou treze anos a sair da Constituição. As primeiras tentativas para abrir sectores à iniciativa privada foram feitas ainda pelos........

© Observador


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