As prioridades dos eleitores |
Tudo indica que o sistema partidário tripolar – dividido entre esquerda, centro-direita e direita radical – veio para ficar. O que está por detrás da ascensão do Chega e de vários partidos similares por toda a Europa? Várias histórias circulam por aí.
A primeira história é a de que os eleitores foram seduzidos ou enganados, iludidos por demagogos carismáticos, manipulados por propaganda online, ou hipnotizados por soluções simples para problemas complexos. Não duvido que muitos eleitores estejam pouco informados e que apoiem soluções demasiado simplistas. Também me parece que os efeitos políticos das redes sociais e da nova revolução tecnológica, embora ainda não consigamos aferir com toda a certeza, não serão pequenos. Ainda assim, tendo a desconfiar de explicações que assentam na mera estupidez ou delusão do eleitorado. Não me parece explicar grande coisa. No passado, serviu mais para iludir os próprios autores dessas supostas explicações e para esconder facetas importantes da condição humana do que outra coisa.
A segunda história explica tudo com base num suposto falhanço dos políticos do mainstream, que foram tímidos e incompetentes. Esta explicação ignora, por exemplo, que a vida da maioria das populações europeias não está pior do que foi no passado. Na verdade, apesar do discurso e do descontentamento, está melhor. É claro que muitos políticos foram incompetentes e não conseguiram resolver tudo – mas isto são constantes da vida em sociedade. Não são novidades dos últimos vinte anos.
A terceira história aponta para uma suposta radicalização do eleitorado e das suas opiniões políticas.
Mas até que ponto estas histórias explicam realmente o fenómeno? Num dos melhores e mais interessantes estudos feitos sobre a ascensão da direita radical, os israelitas Oren Danieli, Noam Gidron e Ro’ee Levy e o japonês radicado nos EUA Shinnosuke Kikuchi comparam o poder explicativo de várias explicações diferentes para o crescimento da direita radical na Europa ao longo dos últimos 25 anos. As conclusões do estudo são fundamentais para quem quer perceber as mudanças nos sistemas partidários.
Em termos gerais, a mudança eleitoral pode resultar de vários fenómenos diferentes, que raramente são destrinçados com cuidado. Do lado da procura eleitoral – isto é, do lado do eleitorado – há três grandes causas possíveis para observarmos alterações.
A primeira possibilidade é que os eleitores mudaram de opinião, ficando mais conservadores ou mais progressistas em assuntos como questões LGBTQ ou a imigração, ou ficando mais de esquerda ou de direita em........