A Esquerda em fuga de si própria
Hannah Arendt nunca pertenceu a capelas ideológicas. Pensadora inquieta, refugiada, judia, cidadã do mundo, olhava para a política com um rigor ético que dispensava ortodoxias, desfez ilusões sobre o progresso e a história, e lembrou-nos, com insistência, que a liberdade não é uma predestinação. Compreendeu que a política é o espaço onde homens e mulheres se revelam, agem e decidem juntos, sem garantias.
O erro original de Marx foi a crença de que a revolução era inevitável, que o proletariado seria, por natureza, o sujeito redentor da história. Esse erro reduziu a política a uma mera consequência das leis económicas, e, nessa redução conceptual, retirou importância à liberdade coletiva e à responsabilidade individual.
Arendt, ao contrário, lembrou-nos que “a política é o reino da ação, da imprevisibilidade, da pluralidade humana”. Não há destino. Há........
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