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A porta para a guerra está sempre aberta

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12.10.2025

Não sei por onde começar. Sei que queria escrever este texto, sei que o queria escrever para qualquer pessoa, porque aquilo de que vou falar não necessita, a meu ver, de uma tomada de posição política nem histórica nem religiosa. Apenas necessita de uma consciência humana sobre o valor de qualquer vida humana. E que este texto possa ser um humilde grito para negar o esquecimento das famílias desfeitas, de todas as vidas inacabadas, seja no ataque de 7 de outubro em Israel, nos bombardeamentos em Gaza, nos kibutz, nos hospitais destruídos. Pelos corpos que ficaram no meio dos escombros, corpos de israelitas, de palestinianos, corpos sem nacionalidade, sem raça, sem diferenças. Apenas corpos com nome, com histórias feitas de amor, de alegria, de conquistas e de derrotas. Corpos feitos de carne, corpos que podiam ser os nossos. Tamar, Fatma, Oriya, Muhannad, Maayan, Yazan.

Hoje, gostava de falar de um documentário selecionado este ano para o Festival de Cannes. Chama-se “Com a alma na mão, caminha”, da realizadora iraniana Sepideh Farsi. Comigo, na sala do Cinema Ideal, estavam mais 4 pessoas, mas desde que o documentário terminou que tenho desejado que o mundo inteiro o pudesse ver. Todos os dias sem exceção, somos testemunhas da morte dos outros. Mas tudo se passa rápido, tudo acontece sem uma história, sem um nome, sem nada que possamos agarrar e chamar de nosso. Analisamos a guerra como se fôssemos químicos, separamos as moléculas da razão, tentamos fazer com que tudo o que acontece seja racional, perdemo-nos em explicações sobre contornos e territórios, sobre Estados e poderes, sobre líderes e terroristas. A morte é o verdadeiro terrorista e não o digo como um cliché mastigado para apelar ao leitor mais sensível. Digo-o porque acredito mesmo que todos podemos ser sensíveis, e somos, mesmo quando estamos adormecidos. Por vezes, como psicóloga, mas também como banal humana, chego a pensar como é........

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