Escassez de Talentos: encontrar pessoas ou merecê-las?

Há uma narrativa que se instalou no discurso empresarial contemporâneo e que, de tão repetida, quase adquiriu o estatuto de verdade absoluta: “Há escassez de talentos…; existe uma guerra pelos talentos!”.

As empresas dizem-no em conferências, em reuniões de direção, em relatórios de RH e, claro, nas queixas discretas dos gestores e líderes que não conseguem preencher vagas.

É uma frase confortável, tanto como perigosa. Explica tudo, não responsabiliza ninguém e transforma a dificuldade num fenómeno externo, inevitável e incontrolável, que de modo, algum o Departamento de RH poderá resolver, o que leva à resignação.

Mas há um problema: não é verdade.

Pelo menos, não na dimensão em que tem sido proclamado.

Nunca existiram tantos profissionais qualificados, com formação superior, competências digitais, sociais, comportamentais, certificações técnicas, fluência linguística e mobilidade global. Nunca tantas pessoas estiveram disponíveis para trabalhar de forma flexível, remota ou híbrida. Nunca houve tantos programas de reconversão digital, academias internas, plataformas de aprendizagem e universidades corporativas…

No entanto, as empresas continuam a afirmar que não encontram talento.

O paradoxo é evidente.

O problema não é o mercado.

O problema é a proposta.

O desfasamento silencioso

A transformação do mercado de trabalho alterou profundamente as expectativas individuais. Para o profissional qualificado de hoje, o emprego deixou de ser uma transação simples — trocar tempo por salário — e passou a ser um contrato emocional, estratégico e cheio de propósito.

As pessoas querem trabalhar, sim. Mas não querem trabalhar a qualquer preço, nem em qualquer contexto…

Querem:

Progressão real, e não um power point motivacional,........

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