Do Presépio às "Fantasias de Natal", o nosso Natal |
Fechem os olhos e escutem. Reparem que o som já não é o dos sinos a tocar nem o de um coro de anjos. É um som mais simples, quase infantil. É a voz de um avô a contar histórias à sua neta, enquanto figuras de chocolate ganham vida junto à árvore de Natal. Lembram-se deste anúncio das “Fantasias de Natal” da Imperial (Chispa), da década de 80? Durante 18 anos, este spot publicitário, com o seu ambiente acolhedor e a magia das histórias inventadas entre gerações, era presença obrigatória na televisão portuguesa. Era um ritual tão certo como o bacalhau da nossa consoada. Hoje, o ritual é outro. A mesma nostalgia, não nos intervalos da programação, mas no deslizar compulsivo do polegar sobre ecrãs do telemóvel que nunca adormecem.
Apropriado por uma nova geração de comunicadores, todos nós, o anúncio tornou-se a banda sonora da ironia: serve para ilustrar a correria aos presentes, a inevitabilidade da música de Mariah Carey ou a sátira política da época. O que aconteceu a este doce símbolo de antecipação? Perdeu a alma ou simplesmente se adaptou aos tempos, transformando-se na ferramenta perfeita para rir do Natal enquanto fingimos que ainda acreditamos nele?
Houve um tempo, não assim tão distante, em que o Natal só começava mesmo quando a televisão nos dava autorização. O sinal não era um anjo a anunciar o nascimento de ninguém, mas sim cenas de convívio familiar, de avós e netos a partilhar histórias e chocolates junto à árvore iluminada. O som da época não era apenas música, mas a voz calorosa de quem contava fantasias com figuras de chocolate como protagonistas. Era o nosso sino de Pavlov. Víamos aquelas imagens e, visceralmente, sentíamos o cheiro do pinheiro na sala e o peso da obrigação de sermos felizes.
Mas os deuses de ontem são os memes de hoje. A internet, essa trituradora de solenidades, pegou nos nossos anúncios natalícios e fez deles o que faz a........