Tartarugas Até Ao Fim
É um belo título. Infelizmente não é meu!
É difícil traçar-lhe data e paternidade. Sendo originalmente uma anedota, foi utilizada por múltiplas personalidades e fez título de alguns livros. Como a última vez que me cruzei com a expressão foi em Determined: A Science of Life Without Free Will (2023), de Robert Sapolsky; é daí que a cito. Na versão indicada, a referência tomou forma numa conferência sobre “Cosmologia e dinâmica do sistema solar”, algures, em finais do século XIX ou primórdios de XX. Na altura, William James, o orador, após terminar a intervenção, foi abordado por uma senhora que lhe disse – Vossa Ex.ª vai-me desculpar, mas nada do que defendeu faz sentido!
Então porquê? Perguntou o conferencista – O Sr. Doutor, bem sabe que a terra está assente numa tartaruga gigante! Devolveu-lhe de imediato e em tom de reprimenda por uma ignorância que lhe era inadmissível!
Então, e essa “magnífica” tartaruga está assente em que? Perguntou o professor com um misto de ironia, ao que uma interlocutora “cheia de si” respondeu: está assente noutra ainda maior e assim sucessivamente. “São tudo tartarugas até ao fim”, expressou triunfalmente e dando a conversa por encerrada.
“Tartarugas até ao fim”. Que bela expressão!
Robert Sapolsky usa-a para defender a tese do livro – “toda a consequência tem uma causa” e, quando aplicada ao livre-arbítrio, deixa-o desnecessário e sem espaço próprio. Para o autor, no cérebro e na mente, tudo decorre de uma cadeia infinita de causalidades, onde tanto causas óbvias como consequências emergentes surgem num encadeamento, por vezes difícil de determinar, mas sempre presentes. E, mesmo que a complexidade subjacente se esfume e a previsibilidade se dilua, as causas não deixam de estar lá. É assim no funcionamento do cérebro, será assim no funcionamento do universo – sem teodiceia, sem teleonomia. Porém, por muito que sondemos, qualquer descoberta leva sempre a novas perguntas e novas demandas – são sempre “tartarugas até ao fim”. E esta é a beleza do infinito em que vivemos. Por muito que o perscrutemos, por muito que procuremos nexos causais no mundo micro ou emergências cósmicas, estamos rodeados de “infinitos” que só não nos atormentam mais porque, no nosso nível ontológico, é sempre possível encontrar algumas respostas.
Não conhecemos o mundo macro que integramos nem o micro que nos consubstancia. Podemos descrevê-lo com mais pormenores, mais detalhes, mas serão sempre descrições, nunca o compreendemos verdadeiramente. O “conhecimento” e a aventura que lhe está associada não se afasta muito do mundo infantil dos “porquês”.
Conhecemos, ou melhor, descrevemos a velocidade da luz no vácuo, a constante de Planck, a constante gravitacional, a massa das partículas, etc. Conseguimos demonstrar estes valores, porém, não sabemos porquê estes e não outros. Sabemos que, a serem outros, o universo seria diferente. Descrevemos o nosso universo, mas não sabemos o porquê de ser assim.
Há uma diferença entre descrever e compreender a realidade. Esta nuance foi sublinhada por Immanuel Kant que a assinalou em A Crítica da Razão Pura, um conceito que tem ecos na metáfora da antiguidade clássica – O Mito da Caverna de Platão. Para Kant, a realidade pode sempre ser descrita – temos acesso ao “fenómeno”, mas este “conhecimento” será sempre limitado. O “númeno” é quase sempre limitado ou distorcido pelas estruturas sensoriais e da mente, diria Kant, mas também pela “tartaruga” em que existimos, acrescento eu.
No nosso nível, claro que há realidades que não nos limitamos a descrever. Conseguimos compreender a fotossíntese – as etapas (luz → eletrões → ATP → glicose), os pigmentos envolvidos, as reações químicas, o papel da clorofila, os produtos e subprodutos, etc. Compreendemos o movimento dos planetas........





















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