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Não nos encostem à parede – a nós, os moderados

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14.01.2025

Quando tinha 26 anos, acabadinha de ser eleita deputada pouco tempo depois de ter completado uma licenciatura em “Ciência Política e Relações Internacionais”, e quando começava a ser uma pessoa conhecida, Rita Rato disse numa entrevista que não tinha opinião sobre o gulag soviético, “em concreto”, porque nunca estudara ou lera alguma coisa sobre o assunto. Isso não obstou a que, alguns anos depois, fosse nomeada directora de um museu lisboeta onde se recordam os anos da ditadura salazarista, cargo que ainda ocupa. Não se sabe se entretanto teve curiosidade suficiente para aprender mais alguma coisa sobre a ditadura soviética, apenas se sabe aquilo que é evidente: na política só nos interessamos por tomar conhecimento do que encaixa nos nossos preconceitos, se preferirem, nas nossas narrativas. O resto preferimos suprimir.

Lembrei-me deste episódio a propósito daquilo a que já chamaram “o maior crime em tempos de paz – e o maior encobrimento – da história britânica”, um escândalo de dar voltas ao estômago que reemergiu por estes últimos dias no Reino Unido. Na verdade eu mal me lembrava deste caso que passará à história como o dos “grooming gangs” pois não me apercebera da sua dimensão – eles vêm referidos num livro que li há uns anos e a que regressei agora, “A Estranha Morte da Europa”, de Douglas Murray. Em poucas palavras o que se passou foi que durante muitos anos, pelo menos desde 1997, que se sabe da existência de grupos de “aliciamento” (o significado de “grooming”) de raparigas ou mesmo adolescentes brancas das classes baixas, muitas de famílias disfuncionais e a viverem em lares, por grupos constituídos sobretudo por britânicos de origem paquistanesa e religião islâmica. A etnicidade dos gangs não levanta hoje qualquer tipo de dúvidas, nem ao sempre cuidadoso New York Times, como não suscitou a quem realizou os inquéritos oficiais que já houve sobre estas práticas, como recordou a BBC.

Para ser mais exacto, não se tratou de “grupos de aliciamento”, eram mesmo gangs de violadores que actuaram muitos anos em localidades tão diferentes como Rotherham (uma cidade de 100 mil habitantes no centro de Inglaterra) ou Oxford. Os relatos sobre o que esses gangs faziam às suas vítimas é difícil de descrever, é preciso ter estômago para conhecer os detalhes e por isso não os vou referir. Mas há vários aspectos que são hoje........

© Observador