O carisma é uma matéria-prima muito rara

E veio a notícia, dura, cruel, inapelável: tinha morrido Sá Carneiro.

Acidente? Atentado? Não se sabia. Mas o choque e a emoção chegaram também a Genebra, onde me encontrava com a minha mulher Margarida nesse dia 4 de dezembro de 1980.

Vivíamos ali desde finais de 1979, e eu obtivera uma bolsa para, depois da licenciatura em Direito, em Lisboa, me especializar em Ciência Política e Assuntos Europeus na Universidade de Genebra.

A decisão, imediata, foi de tomar o primeiro voo para Lisboa a fim de podermos estar presentes no funeral do então primeiro-ministro. E assim foi. No próprio dia 5, já em Lisboa, e na véspera do funeral, assinei a proposta de pedido de adesão ao PSD.

Tratou-se de um impulso irresistível e espontâneo. Já me identificava há algum tempo com o programa e a prática política de Sá Carneiro, era votante do PSD, mas nunca me encontrara pessoalmente com o líder agora tragicamente desaparecido. O que então senti, embora difícil de definir, foi a ideia de que também deveria contribuir para que, apesar da sua morte, os objetivos de Sá Carneiro para Portugal fossem realizados. E que o fim da sua vida não significasse o fim da sua luta.

Ainda antes do 25 de Abril, a partir dos meus dezasseis e dezassete anos, acompanhava já as posições da chamada «Ala Liberal» da Assembleia Nacional através daquilo que alguma imprensa conseguia então divulgar (colaborava então nos suplementos juvenis dos jornais República e Diário de Lisboa…). Na altura, apoiava praticamente tudo o que me parecesse contribuir para o fim do regime vigente.

Veio depois a revolução, e mesmo durante os meus tempos estudantis e as minhas experiências «radicais», que me levariam a liderar a Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa (tinha então dezanove anos), sempre acompanhei com interesse as tomadas de posição daquele líder «burguês» que, vindo de meios conservadores do Norte do país (de onde também era a minha família), agitava com desassombro e bravura a política portuguesa. Nesses meus devaneios «revolucionários» de juventude, estava obviamente muito longe de Sá Carneiro, mas nunca a ele me opus. Pelo contrário, seguia-o sempre com simpatia e até admiração. Ao fim e ao cabo, ele combatera o «fascismo» e era agora irredutível adversário do........

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