O meu pai partiu!

Primeiro dia!

No dia a seguir!

No dia em que fisicamente o perdi!

1 Primeiro dia:
Tinham-me dito que era muito melhor partir que ficar. Porque sofria. Via-o sofrer tanto e, quando lhe dava beijinhos dizia-me depois de um bocado, como se tal não fosse possível, “oh Zé”. Tantas vezes lhe sussurrei ao ouvido “Pai, estou aqui, é o Zé, gosto muito de si”. E ele agarrava a minha mão, como se não existissem palavras (e para ele existiam poucas) e juntava-a à sua cara. E beijava-me a mão. Foram tantos dias só assim. Reiteradamente assim. Nesta simplicidade e cumplicidade comunicacional que um pai e um filho que se amam encontraram para se relacionar. Não eram precisas palavras. Não eram precisas mais manifestações. Estar, só estar ali. E sei que ele sorria por dentro para mim. Por dentro sorria muito para mim. E vinha novo dia e novo encontro. E quando me via nada dizia mas, antes, os seus braços levantava sentado na sua cadeira de almofadas. Encontros diários que duraram precisamente um ano e quase meio. Desde a partida da minha mãe. De cada vez que saía, e não o podia ver no fim de semana, ficava a pensar como estaria. O que pensava. Como se sentia. E olhava para o telefone apenas para saber se........

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