“Os portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento e fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou coletivo. A reserva e a modéstia que parecem constituir a nossa segunda riqueza escondem, na maioria de nós, uma vontade de exibição que toca as raias da paranoia, exibição trágica, não aquela desinibida, que é característica de sociedades em que o abismo entre o que se é e o que se deve parecer não atinge o grau patológico que existe entre nós.
Os portugueses não convivem entre si, como uma lenda tenaz o proclama, espiam-se, controlam-se uns aos outros; não dialogam, disputam-se, e a convivência é uma osmose do mesmo ao mesmo, sem enriquecimento mútuo, que nunca um português confessará que aprendeu alguma coisa de um outro, a menos que seja pai ou mãe…”.
Não me atreveria a ir tão longe, nem nas afirmações, nem nas constatações quanto o foi Eduardo Lourenço sobre os portugueses. Se há coisas verdadeiras, há também uma generalização abusiva a tudo e todos. Se há um fundo de verdade no facilitismo com que emitimos opinião, parecendo às vezes verdadeiros “Oliveiras da Figueira”, de Tintim, há também muito boa gente (cada vez mais) que não cabe dentro deste estereótipo nem desta fragilidade extrema. O povo português continua a ser um grande povo, apesar de muitas vezes com medo de existir.
Dito isto, porque trago aqui este texto e em particular nesta semana? Por uma simples razão. Porque Portugal é bem mais que isto e, mais, Portugal e os portugueses podem corrigir isto. Como? Vejam-se esta semana os rankings das universidades portuguesas na Europa publicados pelo Financial Times. Temos cinco escolas de gestão nos rankings das principais escolas de gestão da Europa. Feito apenas conseguido, para melhor, pela França, UK e Alemanha. Ultrapassámos a Espanha, ultrapassámos a Holanda, ultrapassámos todos os restantes países europeus exceto França, UK e Alemanha. Motivo para orgulho e para defender em 3 pontos o porquê de trazer aqui este texto, contra-argumentando as verdades aparentemente universais de Eduardo Lourenço.
PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR
Dito isto, quem sou eu para contradizer Eduardo Lourenço? Ninguém. Mas pelo menos para retorquir, dois anos após a sua partida, que as coisas estão a mudar. E a mudar para melhor.
Igualmente, para dar os parabéns por este resultado coletivo a todas as escolas presentes no ranking. E são cinco: NOVA SBE, Católica Lisbon, Porto Business School, ISEG e ISCTE. Se mais fizermos mais estamos a fazer pelas nossas pessoas e para contrariar esta imagem que se possa ter dos portugueses.
Finalmente, porque apesar de estarmos a criar história, estamos a exportar o fruto do nosso trabalho. E cada vez exportamos mais para o exterior. Ao contrário do que muitos dizem eu tenho um gosto particular em ver os meus alunos singrarem no exterior, darem cartas, serem aceites por grandes empresas globais e voarem mais e melhor que nunca. Um dia voltarão. E criarão riqueza para o país. Tenho noção de que somos um país pequeno para as oportunidades que estas escolas e estes alunos criaram, trabalhando melhor que nunca. Parabéns a todos. E não, não me exibo, logo existo. Trabalhamos, e trabalhamos muito, logo existimos.
Receba um alerta sempre que José Crespo de Carvalho publique um novo artigo.
Exibo-me, logo existo, ou os rankings do FT?
“Os portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento e fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou coletivo. A reserva e a modéstia que parecem constituir a nossa segunda riqueza escondem, na maioria de nós, uma vontade de exibição que toca as raias da paranoia, exibição trágica, não aquela desinibida, que é característica de sociedades em que o abismo entre o que se é e o que se deve parecer não atinge o grau patológico que existe entre nós.
Os portugueses não convivem entre si, como uma lenda tenaz o proclama, espiam-se, controlam-se uns aos outros; não dialogam, disputam-se, e a convivência é uma osmose do mesmo ao mesmo, sem enriquecimento mútuo, que nunca um português confessará que aprendeu alguma coisa de um........
© Observador
visit website