Uma semana em Novembro |
Novembro de 1975 foi um mês inesquecível em Portugal e Espanha. Aquela terceira semana ficaria cerzida na memória de todos aqueles que a viveram. Daria também origem a grandes debates e tensões ideológicas nas décadas seguintes. Em ambos os casos, a esquerda ficou traumatizada.
Depois de governar Espanha com mão de ferro desde a Guerra Civil, impondo purgas e perseguições políticas especialmente violentas nos anos subsequentes ao conflito, a 20 de Novembro, Franco morria pacificamente na sua cama em Madrid. O ditador sanguinário expirava ainda em plena posse dos seus poderes — até ao fim caudilho absoluto, inquestionável. Nesta circunstância residia talvez a derradeira derrota da oposição. Em vez de conseguirem derrubar Franco e julgá-lo pelos seus crimes, a esquerda via-se confrontada com mais uma humilhação simbólica. O homem morria na cama, impune e triunfante, com capacidade para ditar — pelo menos parcialmente — o ponto de partida da transição para a democracia.
Quando Franco morreu, Portugal vivia já em festa há quase um ano e meio. No entanto, para muitos, como lamentou José Mário Branco, a festa estava prestes a chegar ao fim. Depois do pronunciamento militar que derrubou o regime de Salazar e Caetano, aconteceu uma revolução social e política que, em grande medida, fez o país perder duas décadas de desenvolvimento, até a revisão constitucional de 1989 repôr a economia no sítio onde deveria estar, com devaneios........