Femonacionalismo

Os partidos que tipicamente chamamos de direita radical conheceram na última década e meia um extraordinário sucesso na Europa e, ao contrário da teoria do excepcionalismo, também em Portugal. Portugal é um país absolutamente normal, simplesmente as correntes políticas, sociais e culturais ocorrem com atraso em relação ao centro da Europa. No entanto, esta diferença entre Portugal e o resto da Europa tem vindo a diminuir de forma drástica. Em 2025, o reportório político que os partidos de direita radical utilizam em toda a Europa é bastante semelhante, incluindo os seus instrumentos retóricos.

Nos últimos anos, os partidos de direita radical têm utilizado de forma recorrente e cada vez mais intensa aquilo que a socióloga americana Sara Farris apelidou, no seu livro de 2017, de femonacionalismo: a utilização da retórica de género para promover o nativismo e a xenofobia, especialmente agendas anti-islâmicas. Alguns exemplos ajudarão a ilustrar o modo com a direita radical, e também, crescentemente, o centro-direita, utilizam esta estratégica política.

Na campanha eleitoral o Parlamento Europeu de 2024, em Espanha, o Vox fez campanha usando um cartaz que colocava lado a lado imagens de duas mulheres: uma mulher vestida com uma burca, a outra mulher de camisola de alças decotada, a sorrir. A mensagem dizia: “Que Europa queres? Para nós está claro.” Em Portugal, Rita Matias protagonizou um cartaz muito semelhante. Na Alemanha, por exemplo, na campanha eleitoral do início deste ano, o líder da CDU, Friedrich........

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