Quando, no passado dia 5 de Setembro, li a notícia da morte do Augusto M. Seabra, levantou-se em mim uma inominável tristeza.
Não sei se posso dizer que éramos amigos. Mas posso dizer que nos estimávamos e nos respeitávamos. A estima é um parente da amizade. Usamos a palavra estima como maneira de formalizar um sentimento. Quando dizemos “estimado Augusto” ou “querido Augusto”, estamos a dizer coisas diferentes. Ao mesmo tempo, alguém que estimamos pode ser-nos querido. Querer alguém é sentir proximidade, encontro. Querer alguém pode ser um sentimento solitário ou ter correspondência. Querer quem estimamos é elevar a estima. A estima não implica ação pelo outro. Quer dizer, dificilmente, tomamos uma iniciativa por alguém que estimamos (são poucos, os que, efetivamente, colocam na vida de todos os dias o conceito de amor ao próximo, na visão cristã, ou de solidariedade e fraternidade, na visão laica). Mas, provavelmente, tomamos iniciativa por um amigo. Se sabemos que um amigo passa dificuldades, por exemplo. A amizade é um teste à nossa verdade. Para lá da proclamação de intenções, há momentos em que se percebe quem está e quem não está presente. Quem, na nossa vida, está connosco.
A amizade é diferente do clientelismo. No clientelismo, há quem esteja com quem. Mas, ao contrário da amizade, que é uma forma de amor, e que não procura recompensas de ordem material, no clientelismo, existe um esquema mútuo de........