A cor da pele
Em Oeiras, no ano de 2004, no fim de uma longa reunião pública de câmara em que se distribuiu habitação social, um oeirense veio ter comigo e disse-me: “Doutor, isto é uma vergonha. As casas vão todas para ciganos e indianos! E nós, portugueses, ficamos com uma mão à frente e outra atrás!”. À altura, eu era vereador da Câmara Municipal de Oeiras, eleito pelo PSD. E como é comum, no poder local, os cidadãos falam com os políticos. O que oferece matéria para reflexão é o comentário feito por este oeirense e o facto de o fazer comigo. É que eu sou de origem indiana e vê-se bem, na cor da pele. Mas o queixoso não conseguia ver, no rosto do Poder, o “indiano”. Via “o vereador”.
Causava-lhe – e com razão – confusão que ele, com salário baixo e muitas dificuldades para ter uma vida digna e cuidar da família, não tivesse acesso a certo tipo de apoios públicos. E que pessoas com um nível de rendimento só um pouco abaixo (e, eventualmente, com rendimentos não declarados) pudessem obter uma casa com uma renda simbólica, passando-lhe à frente – em relação à qualidade de vida. Em termos comparativos, uma situação desequilibrada, entre rendimentos e benefícios.
Se a generalização racista que tinha sido feita – “ciganos e indianos” – é de lamentar, a razão da crítica é razoável – quem usufrui do RSI sem trabalhar e com acesso a benefícios sociais, tem uma situação económica, antes da atribuição de uma habitação, muito similar a quem, trabalhando, aufere salários........
© Observador
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