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A cor da pele

19 10
18.03.2024

Em Oeiras, no ano de 2004, no fim de uma longa reunião pública de câmara em que se distribuiu habitação social, um oeirense veio ter comigo e disse-me: “Doutor, isto é uma vergonha. As casas vão todas para ciganos e indianos! E nós, portugueses, ficamos com uma mão à frente e outra atrás!”. À altura, eu era vereador da Câmara Municipal de Oeiras, eleito pelo PSD. E como é comum, no poder local, os cidadãos falam com os políticos. O que oferece matéria para reflexão é o comentário feito por este oeirense e o facto de o fazer comigo. É que eu sou de origem indiana e vê-se bem, na cor da pele. Mas o queixoso não conseguia ver, no rosto do Poder, o “indiano”. Via “o vereador”.

Causava-lhe – e com razão – confusão que ele, com salário baixo e muitas dificuldades para ter uma vida digna e cuidar da família, não tivesse acesso a certo tipo de apoios públicos. E que pessoas com um nível de rendimento só um pouco abaixo (e, eventualmente, com rendimentos não declarados) pudessem obter uma casa com uma renda simbólica, passando-lhe à frente – em relação à qualidade de vida. Em termos comparativos, uma situação desequilibrada, entre rendimentos e benefícios.

Se a generalização racista que tinha sido feita – “ciganos e indianos” – é de lamentar, a razão da crítica é razoável – quem usufrui do RSI sem trabalhar e com acesso a benefícios sociais, tem uma situação económica, antes da atribuição de uma habitação, muito similar a quem, trabalhando, aufere salários........

© Observador


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