Leves lapsos de um brasileiro na Gulbenkian |
Inaugurou-se a 14 de novembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição “Complexo Brasil” que tem sido muito comentada, não tanto pela exposição em si mas sobretudo por causa de um dos cinco textos incluídos no livro que a acompanha. Trata-se de um texto assinado pela jornalista brasileira Eliane Brum, em que se acusam os descobridores do Brasil e outros portugueses de antanho de várias perversidades e malefícios.
No meu próximo artigo direi o que penso dessas acusações da jornalista Brum. Para já quero fazer algumas considerações sobre as opiniões do curador da exposição, José Miguel Wisnik, acerca da relação de Portugal e dos portugueses com a escravatura. Tanto nas entrevistas que deu aos jornais, como no texto que escreveu no já referido livro, o curador aponta o dedo a um suposto encobrimento. Diz nomeadamente ao jornal Sol que “a escravidão e a chamada abolição vieram com um apagamento do passado e principalmente do quanto continua presente no Brasil o passado escravista” e, mais adiante, refere que no contexto da exposição, foi decidido dar prioridade aos “testemunhos apagados, invisibilizados. Portanto, àquilo que foi encoberto, àquilo de que não se fala. A escravidão é um tema não falado no Brasil e acredito que não falado em Portugal”.
Ou seja, o curador da exposição lança-se a presumir que em Portugal esses assuntos não se debatem. Está enganado, claro, mas essa ideia de suposto silêncio ou de apagamento em torno da história da escravatura tem uma função, expressa ou latente. Essa função é a de transmitir às pessoas que generosos e desafrontados activistas chegaram finalmente para combater os recalcamentos e revelar informações tidas por incómodas, vergonhosas, escondidas. O problema de muitos destes autoproclamados anunciadores de verdades supostamente encobertas ou omitidas é que nos trazem, por sua vez, um extenso rol de erros, imprecisões e outros apagamentos.
Vejamos como, voltando ao penúltimo parágrafo. Não parece que José Miguel Wisnik conheça o cenário da investigação e do........