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Joacine e a coleira

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24.06.2024

O que mais surpreende nas pessoas woke é o alto nível de espanto que evidenciam, e o estardalhaço que promovem, perante coisas óbvias e de há muito sabidas. Como se tivessem acabado de sair do jardim-escola e de descobrir que existiu um passado onde, como diz um conhecido autor, se faziam as coisas de forma diferente, os woke reagem com indignação e surpresa às injustiças e brutalidades da história, e a práticas que toda a gente lamenta, sim, mas sabe que foram, felizmente, abolidas.

Parte dessa surpresa tem a ver com ingenuidade; outra parte com emotividade em excesso; um terceira parte, ainda, com pouco conhecimento da matéria. São estes dois últimos aspectos — a emotividade e a ignorância — que aqui me interessam a propósito de declarações da activista Joacine Katar Moreira sobre uma coleira metálica usada por um escravo no século XVIII, ao que se julga, e que se encontra actualmente no Museu Nacional de Arqueologia. Em declarações ao jornal Público Joacine confessou-se particularmente incomodada com a dita coleira e com a forma como ela tem sido exibida pelo museu. A ex-deputada contou ao jornal que a coleira — onde pode ler-se a seguinte inscrição: “Este preto é de Agostinho de Lafetá do Carvalhal de Óbidos” — teria sido encontrada em 1908 por José Leite de Vasconcelos que, segundo Joacine Katar Moreira, “a caracterizou na época de forma absolutamente emocional, dizendo que lhe ardiam as mãos só de imaginar que aquele objecto tinha sido usado no corpo de um homem”. Joacine insurgiu-se por esta coleira só ter começado a ser exposta ao público em 2016, e lamentou que agora o seja com uma legenda meramente descritiva que se limita a indicar a........

© Observador


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