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As melhores intenções

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12.12.2025

O sociólogo moçambicano Elísio Macamo veio recentemente a Portugal para participar numa mesa-redonda em Braga e, no caminho para esse evento, teve ocasião de falar com um jovem condutor de taxi e um recepcionista de hotel portugueses. Ambos se lançaram, sem que Macamo lho pedisse, a fazer um retrato de Moçambique e um diagnóstico dos seus problemas, a que se seguiu a receita que, segundo eles, os moçambicanos deveriam seguir para que o seu país andasse para a frente. O sociólogo viu nisso uma espécie de paternalismo, o que poderá ser aquilo a que os ingleses chamam jumping to conclusions pois o que aparentemente se passou não implica necessariamente uma hierarquia ou uma desvalorização do interlocutor. É exactamente o que muitos portugueses fizeram quando, a respeito do Brexit, tentaram explicar aos britânicos o que melhor lhes convinha. Ou, então, quando tentaram demonstrar aos norte-americanos por que razões nunca deveriam votar em Donald Trump. E estes exemplos podiam multiplicar-se indefinidamente. Todos nós temos muitas opiniões acerca do quadro político e social dos países dos outros, e Elísio Macamo decerto também as terá.

De qualquer forma, o que importa sublinhar é que o sociólogo se sentiu subalternizado ou desconsiderado na sua qualidade de moçambicano, adulto, cientista social e ser pensante. Sendo uma pessoa inteligente e imaginativa, construiu a partir desses dois micro-diálogos na zona de Braga — e certamente de outras não-referidas experiências anteriores — uma teoria que nos explicou no Público e que vai desembocar naquilo a que ele chama “superioridade inocente” do português relativamente ao africano, isto é, e como Macamo referiu, “uma superioridade que não nasce de arrogância deliberada, mas de uma combinação de ignorância confortável, memória selectiva e convicção de mérito herdado”. Dito de outra forma, para o sociólogo esse sentimento do português relativamente ao africano, não é “soberba agressiva” e também não é “supremacismo declarado” nem “racismo”. É, isso sim, “uma confiança tranquila, uma espécie de prerrogativa epistémica herdada, que se exerce sem má-fé, mas que produz efeitos de bloqueio na conversa”. É isso que, segundo Elísio Macamo, “impede que o português reconheça que o africano tem algo a........

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