A redenção de Catarina Demony
Há dias, respondendo a jornalistas, João Lourenço, o presidente angolano, garantiu que o seu país nunca iria pedir reparações a Portugal pelo passado colonial porque isso, por várias razões que então explicou, não faria qualquer sentido. Ao lado do presidente angolano, Luís Montenegro, em visita oficial a Angola, limitou-se a dizer que nada tinha a acrescentar àquelas declarações do seu anfitrião, mas terá provavelmente pensado no contraste entre a ponderação e razoabilidade demonstradas por João Lourenço e a precipitação e desnorte do seu homólogo português que, no recente mês de Abril, respondendo igualmente a jornalistas, decidiu declarar que Portugal tinha de “pagar os custos” pelos erros ou crimes cometidos nesse passado.
Montenegro terá provavelmente notado que o que interessou aos media locais como, por exemplo, o Jornal de Angola, não foi o assunto das reparações, mas sim o facto de Portugal ter reforçado uma linha de crédito para Angola com mais 500 milhões de euros. Por isso, as perguntas sobre reparações a que João Lourenço tão acertadamente respondeu, não saíram da boca de jornalistas africanos, mas sim da de portugueses, pessoas onde mais facilmente medram e ressoam as ideias politicamente correctas e os sentimentos de culpa face ao mundo que os europeus encontraram e colonizaram. E é possível que Luís Montenegro tenha sorrido interiormente perante aquela lição de bom senso que João Lourenço deu ao wokismo lusitano. Tenho, porém, a convicção de que o primeiro-ministro português não terá apanhado o fio desta meada desde o início, e de que não saberá que este caso nos mostra exemplarmente, e passo a passo, como, por que vias e por que razões o wokismo se instala e actua. Para explicar tudo isso temos de andar um bocadinho para trás e seguir, através das suas declarações, a história pessoal de Catarina Demony, uma jovem jornalista portuguesa, correspondente da agência de notícias Reuters.
Aos 18 anos de idade, e ainda antes de o ser, esta jornalista, que terá agora 31, descobriu, através de uma avó, que descendia de gente que tinha estado ligada ao tráfico transatlântico de escravos. A princípio não soube o que fazer com essa informação. Depois, já na universidade, em Londres, e mais recentemente em Lisboa, à medida que se ia tornando woke, à medida, também, em que ia conhecendo com cada vez maior detalhe as actividades........
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