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Lisboa, cidade das Rotas da Seda

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25.04.2025

Falar sobre as Rotas da Seda remete-nos, em regra, para paisagens inóspitas da Ásia Central e para a circulação de caravanas compostas por camelos bem carregados de mercadorias e os seus condutores, mais um punhado de viajantes, principalmente os mercadores, mas também aventureiros das mais variadas espécies – gente que circula entre oásis ou estações de muda, que enfrenta desertos e trilhos montanhosos, e que vigia o horizonte sempre temerosa do aparecimento de grupos hostis. Independentemente de a visão ser mais ou menos romanceada, falamos de redes de contactos que funcionam há milhares de anos e que possibilitaram a circulação de objectos, mas também de tecnologias e de ideias à escala euroasiática.

A seda, cuja produção foi um segredo dos chineses durante milénios, podia ser usada por uma mulher romana em Olissipo, junto ao Tejo, há 2.000 anos, embora sejam raríssimas as referências a contactos directos entre chineses e romanos. No sentido contrário ao movimento dos rolos de seda, este eixo de comunicação possibilitou, por exemplo, a chegada dos carros de combate à China, há mais de 3.500 anos. As Rotas da Seda foram também responsáveis pela circulação de ideias religiosas; e a aparição quase simultânea do Confucionismo na China e do Budismo na Índia pode sugerir alguma contaminação, que se repetiu quando boa parte da ética budista foi assimilada à Boa Nova do Evangelho. O Budismo e o Cristianismo chegaram às portas da China também por esses trilhos, calcorreados por sucessivas gerações, inclusive por viajantes famosos como Marco Polo.

As aventuras deste veneziano ajudam a compreender a maior amplitude deste sistema de comunicação, pois aos trilhos terrestres de desertos e montanhas, acrescentaram-se desde há dois mil anos, rotas marítimas complementares, que possibilitaram a integração do Japão nestes circuitos e o desenvolvimento de comércio marítimo entre a China e a Índia. Os Chineses, aliás, chegaram à costa oriental africana, nos séculos XIV e XV, e Marco Polo regressou à Europa, a bordo de um navio que o levou de Cantão até ao Golfo Pérsico. No final do século XV, a cristandade........

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