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O fogo e os marcianos verdes

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21.08.2025

Circula por aí uma entrevista de José Gomes Ferreira em que a dada altura, para desenvolver o seu ponto de vista conspirativo, propõe o cenário: “se não houvesse incêndios num ano”. E eu pergunto aos leitores: se eu escrevesse aqui um artigo onde propunha como cenário “se a Lua fosse quadrada”, que crédito me dariam? Nenhum, porque era uma patetice. Mas damos crédito ao José Gomes Ferreira por continuarmos sem perceber que o cenário proposto é… impossível.

José Gomes Ferreira podia consultar os trabalhos do espanhol José Carrión que mostram como, desde a instalação do nosso bioma mediterrânico no quaternário, o fogo não abandonou a paisagem; ou podia consultar os trabalhos de “nuestro hermano” Ricardo Velez ou do nosso Paulo Fernandes, sobre adaptações ao fogo das nossas principais espécies florestais (talvez descobrisse que a cortiça não apareceu no Sobreiro porque 1 milhão de anos mais tarde o Homem inventaria a rolha); ou ainda do australiano Simon Connor, que a partir da Charca da Candeeira, estudou os últimos 14 mil anos de fogo na Serra da Estrela, e talvez ficasse surpreendido com os resultados: foram 14 mil anos de fogo. Ele e a maioria de nós…

Não há fogo em Marte. O fogo é um produto da vida. Por enquanto, por todo o Universo, só no planeta Terra conhecemos fogo. E se nalguns lados é raro, noutros, como na nossa geografia, ou seja, nas nossas condições naturais, é uma constante. Porquê? Há 5 zonas mediterrânicas no mundo: a nossa, o oeste dos EUA, o Chile, a África do Sul e a Austrália. Situam-se entre os desertos e as zonas temperadas todos eles, como nós estamos entre o Saara e a Alemanha. Ora, andando para o deserto, temos imensas condições para arder (tempo quente e seco), mas pouca ou nenhuma vegetação........

© Observador